sábado, 12 de abril de 2014

Mãe e profissão! Desabafo

Anda acontecendo tantas coisas pelo mundo, que tenho ficado horrorizada, e estas coisas tem me feito mais perguntas sobre quem eu realmente sou.
Vamos voltar um pouco no tempo:
Sai da casa dos meus pais cedo, fui morar com minha avó e tias. Aprendi. Acho que esta é a palavra deste tempo: Aprendi a escutar, a ler, a estudar, a cozinhar, a respeitar ainda mais a minha família, aprendi que podemos ter recomeços, aprendi a não ser mais a filha da diretora, aprendi a ser a sobrinha da professora, aprendi que podia ter amigos, aprendi que os avós vão cedo de mais, aprendi que magoamos as pessoas que mais amamos. Aprendi.
Depois resolvi que precisava de mais, que aquela cidade era muito pequena pra quem eu era e quem eu queria ser. Desapeguei. Desapeguei no momento em que meu pai me deixou na rodoviária e foi embora, desapeguei naquela noite chorando no onibus e pensando em como seria minha vida, se eu estava certa daquela decisão. Sentada no banco da rodoviária repensei muita coisa, mas tinha certeza que era a decisão certa. Desapeguei do mais difícil: ter a família perto. Desapeguei de dormir, de ficar sem fazer nada, de ser filha. Aprendi a trabalhar, a ser ainda mais responsável do que eu já era, desapeguei da vida social, sabia que para conseguir o que eu queria, eu precisava trabalhar e estudar. Fui encontrada por um professor/pessoa maravilhosa, que me fez crescer, que me fez me apaixonar pelo design, que me fez ver que design não era "só" aquilo. Construí amigos, construí a minha vida, do meu jeito. Desapeguei de ir no mercado e comprar o que eu queria, para comprar o que eu precisava. Encontrei minha irmã de alma. Encontrei meu marido. Me encontrei como designer, profissional, sensata, apaixonada pela profissão. Desapeguei do emprego. Desapeguei de todo e qualquer egoísmo e virei mãe. Quando decidi realmente engravidar, não tinha ideia de como isso iria mudar minha vida. Nem pra melhor, nem pra pior. Mas mudar.
Mudei, por 1 ano e 4 meses fui mãe em tempo integral, freelancer nas horas vagas e dona de casa 24h/d. Me perdi. Como mãe me perdi, por ter um filho que chorava, que não dormia. Como profissional me perdi em tudo. Tudo o que eu havia construído em anos, em não tinha mais, eu havia virado mãe. Comecei uma pós graduação quando meu filho tinha 1 mês de vida. Me sentia excluída, insegura, com tanto medo, mas com tanto medo que levei meses pra conseguir conversar com meus colegas como eu realmente era. Os choros, as risadas que eu escutava enquanto estava na aula e eles (marido e filho) no lado de fora, o cheiro de leite, me tiravam a concentração, ficava pensado que meus colegas me odiavam por estar atrapalhando a aula, escutava cada gesto deles. Tinha medo de falar, pois, afinal, eu não estava trabalhando e era mãe. No final, quando já não levava o edu para a pós, abrindo mão muitas vezes da aula da sexta feira, tirando o leite durante a semana, percebi que todos sentiam falta dele. Ele fazia parte. Ele fazia parte da minha vida. Desisti de fazer o monografia. Meu orientador não desistiu de mim.
Me reconstruí como profissional, voltei a trabalhar e me senti uma mãe de merda. Como eu, poderia, deixar uma criança de 1 ano e 4 meses numa creche e ir trabalhar? Como eu tinha coragem de fazer isso com meu filho? Mas a família precisava. No trabalho, me matava, me matava para mostrar que eu era capaz, que eu era uma excelente profissional, me matava para fazer tudo, deixar tudo certo, para que ninguém pudesse dizer que eu era menos profissional por ser mãe. Em casa me matava, me matava tentando colocar a casa em ordem. Me matava por pensar o tipo de mãe que eu era. Afinal, meu filho não dormia, só chorava, e eu trabalhava.
Eu trabalhava profissionalmente e pessoalmente. Trabalhava para me encontrar, me reencontrar. De novo, como mãe, mulher e profissional.
Não me arrependo das coisas que fiz, ou deixei de fazer, mas, hoje, morando em outra cidade, tendo que me reinventar novamente. Percebo, que desde que me tornei mãe, nunca mais me achei como profissional.
Hoje, ainda bem, temos textos e mais textos que falam da importância da presença materna nos dois primeiros anos, ou ao menos, da mãe no primeiro ano e do pai no segundo ano. Textos que falam o quanto a sociedade deveria respeitar e valorizar o trabalho de ser mãe. A importância que isso tem para o futuro da sociedade.
Percebo, lendo as notícias, que ... não estamos fazendo o que é certo. Se pai mata filha, mãe joga bebe no lixo, namorados esfaqueando namoradas, mães prendendo filhos em casa, funkeira sendo proclamada como pensadora!. Que sociedade é esta? o que nós pais estamos fazendo com a educação dos nossos filhos? que valores estamos deixando para eles?
E ai, volto eu, mais uma vez para o meu dilema: quem eu sou? Eu sou mãe? sou profissional? ou sou os dois?
Realmente eu não sei. Sei que tento ser a melhor mãe que posso ser, mas que isso faz de mim outro tipo de profissional. Que ser mãe me faz ser totalmente insegura em muitas coisas, e totalmente corajosa em outras. Sei que hoje, não consigo mais falar com alguém só sobre design, hoje, o meu mundo é ser mãe. E tudo o que eu fiz, e tudo o que eu abri mão, e as pessoas que acreditaram em mim, o que eu fiz com tudo isso... eu não sei.
A minha maior preocupação hoje é: que tipo de homem estou criando para a sociedade.
Mas, sinceramente, quando ser mãe vai deixar de ser vergonhoso, vai deixar de ser "você não faz nada o dia todo". Quando ser mãe será um ponto positivo em uma entrevista de emprego? Quando a licença maternidade será de um ano. Sim, 1 ano, ou você acha certo colocar um bebe numa creche? tenha dó!
Tenha dó da mãe, do filho e da sociedade, pois todos sofrem com esta decisão. Ler textos da mãe em tempo integral para a mãe que trabalha fora e vice versa, não nos faz sentirmos melhor, faz percebermos que todos sofrem com as decisões, pois sempre tem alguém julgando.
O pior é o julgamento que fizemos com nós mesmas, como o meu agora: Que tipo de profissional é você, que abre mão da sua carreira para ficar com a família. Ou então que tipo de mãe é você, que abre mão da família pela carreira.
Filho, eu te amo do fundo do meu coração, e espero, estar fazendo as decisões corretas para a sua vida, e para a minha.
#maeemcrise


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