sábado, 4 de setembro de 2010

A importância da presença materna para a criança até os dois anos de idade.

Retirado do Blog: http://fabijulia.blogspot.com/2010/09/importancia-da-presenca-materna-nos-2.html
“Puxa, mãe, esses dois anos passaram voando hein?
Minha vida tem sido bem agitada. Aos quatro meses, ainda estava naquelas de mamar, dormir e dar umas gargalhadinhas, daí você voltou a trabalhar. Quando dei por mim estava na escolinha. Você ia e voltava, papai também, teve a história do cadeirão, eu sentado vendo as luzes dos carros, os sinais de trânsito, nossa casa de volta, eu mamando em você, papai preparando a papinha. Na escolinha o dia passava, as professoras cuidavam de mim, depois conheci os outros bebês e mesmo sem ter entrado na fase de interação, acabei aprendendo a me relacionar. Foi meio rápido, quase no tapa, levei mordidas, chorei, fui consolado, aprendi a brigar e ficar zangado. Me safei na boa, mas foi meio surpreendente, rápido mesmo, uma verdadeira luta pela sobrevivência.

Cair na vida agitada assim, perdendo todas as referências anteriores por longas horas foi meio cansativo para meus padrões de bebê. Tive gripes, fiquei manhoso, passei dias febris com você em casa, recuperei a rotina corajosamente e hoje posso dizer que em alguns aspectos eu som bem maduro para minha idade. Em outros não.

Os finais de semana sempre calibravam minhas energias; fui levando, a escolinha foi entrando em mim, virou uma espécie de casa estepe. Hoje estou bem lá, adaptado, brinco com outras crianças, tiro uma soneca depois do almoço e quando percebo já é hora da sua chegada. Ufa, que bom quando você chega. Não sou de falar muito, faço mais o tipo observador. Ainda uso fraldas e desmamei por volta de um ano. Você e a pediatra resolveram que eu poderia entrar na mamadeira, e eu peguei gosto pela coisa; hoje está difícil diminuir as mamadeiras. Como você é muito ocupada, quando eu não quero comer você prepara logo minha “dedera”, depois de culpa que eu não tenho mais idade para substituir comida por leite, tem consciência de que um bom prato de frutas com cereais é mais nutritivo para mim, mas você acha mais prático e rápido preparar a mamadeira e eu acabei acostumando, e gostando.

A fase oral, que poderia estar chegando ao fim, estica-se agora um pouco mais. Gosto muito de colo; não tenho prazer em brincar sozinho e prefiro que você faça tudo por mim. Inevitável que eu tenha muita vontade de você, muita vontade de te ver. Você ainda é a pessoa mais importante do mundo para mim e não deu para eu desgrudar devagar, então fico nessa por mais algum tempo. Nem tudo na vida tem explicação absoluta, mas devo confessar que viver longe do seu corpo durante as fases de diferenciação e subdiferenciação, que ocorrem entre o primeiro e o segundo ano de vida, teve alguma influência.

É que os bebês não nascem sabendo que são separados de suas mães, é um longo processo que só termina perto dos dois anos. Aparentemente um bebê de seis meses não se importa em ficar oito horas longe da mãe, mas não é bem assim. Por mais modernos que sejamos, ainda somos mamíferos e a amamentação e as referências familiares é o que nos tranqüilizam nesse processo de separação, que dura aproximadamente dois anos, se tudo sai nos conformes da nossa história antropológica, o que é bem raro hoje em dia. Com a mãe por perto, ou as referências mais próximas, e esse não foi o nosso caso, é mais fácil decompor esse processo e dar cabo das fases de diferenciação e subdiferenciação, que nos ajudam a amadurecer psiquicamente.

Por sorte minha professora logo assumiu o papel de referência para me deixar seguro e me sentir amado, nem sempre isso acontece, depende da preparação do profissional. Ela foi bem legal, soube compreender minhas inseguranças com muita continência, mas algumas coisas eu ainda preciso processar, afinal nasci de você e não dela, você é só minha e ela tem outros bebês, outra vida, outra casa. Até os três anos devo resolver a saída das fraldas, que eu nem me toco que existem e para que servem. Decerto vou parar de usar mamadeira, se você ajudar, mas nesse momento eu preciso esticar um pouco mais minha fase oral. O tempo que eu não tive com você para entender melhor meus próprios processos, é um tempo só meu, que não tem nada a ver com o mercado de trabalho dos adultos.

Mas não fica triste não mamãe, eu sou um bebê feliz, passou bons momentos em casa nos finais de semana, me divirto pra caramba na escolinha e já estou internalizando a presença de outras pessoas da família, com as quais convivo pouco devido a falta de tempo. Devargazinho devo conquistar a necessidade maior da fase que se anuncia e que me causa ainda um pouco de preguiça e insegurança, que é a busca de uma certa autonomia. Como a autonomia chegou antes do meu tempo biológico, acabei vinculando autonomia com separação e grude com amor. Acho que você também, por isso vive tentando me agradar, criou o viciozinho da mamadeira, quer curtir também um pouco mais o meu resto de vida como bebê.

Um dia resolvo tudo isso, viro criança de vez, deixo o bebê em mim lá trás e sigo em frente, cheio de determinação; entenderei que separações fazem parte da vida e amores de descolam vida afora. Na marra não vai, é sempre melhor com carinho e continência. Não adianta você dizer que já tenho dois anos e posso andar e correr; ainda sinto muita necessidade de ser tratado como bebê, com muito colo e atenções imediatas. Tenho poucas estratégias para lidar com a frustração da espera. Eu chego lá mãe, não há nada de errado comigo ou com você. Dentro de nossas possibilidades estamos indo muito bem, até porque os filhotes humanos tem uma incrível capacidade de adaptação. É o que estou fazendo, no meu tempo, de acordo com o seu tempo de adulta.

Nesse próximo ano, o terceiro, tenho certeza de que, você terá mais tempo para brincar comigo, afinal exigirei menos esforços corporais da sua parte e então descobriremos, juntos, novas formas de nos relacionar amorosamente sem que fiquemos presos a padrões típicos da fase oral. Corra mamãe, para a papelaria mais próxima e descubra quebra-cabeças, jogos de montar, aquarela, papel e massinha. Nós vamos conseguir.” 


Texto de Claudia Rodrigues – jornalista, educadora somática e mãe de três filhos.
Ai ai ai!!
enchi os olhos de lágrima e fiquei pensando: será que o alberto aguenta dois anos só ele com as contas da casa? Será que meus frees serão o suficiente pra ajudar? Será que eu, com toda minha hiperatividade e impaciência consigo ficar 2 anos em casa? Será que eu vou conseguir deixar o eduardo na escolinha? será que vou conseguir me separar dele apesar do minha exaustão?
pois é ... são coisas a se pensar, a resolver... sem culpa e com consequências.

Nenhum comentário:

Postar um comentário